segunda-feira, 2 de maio de 2011

Wiki de Hipertensão Arterial I

Importância de considerar os efeitos adversos ao prescrever um anti-hipertensivo

O caso do Sr. Adauto ilustra a importância de conhecer os efeitos adversos dos medicamentos quando planejamos prescrever anti-hipertensivos. Ele apresenta inúmeros problemas clínicos – alguns ainda incipientes – e utiliza drogas que potencialmente podem interagir entre si. Por outro lado, ele é resistente à idéia de se tratar. Nas palavras dele “estou me sentindo muito bem; estes medicamentos sempre me fazem algum mal”.

Começando pela prescrição de diuréticos. Tais fármacos podem agravar os distúrbios metabólicos (glicídios e lipídios) e a hiperuricemia apresentados previamente pelo paciente. Assim, a utilização desta classe de medicamentos deve ser realizada de forma criteriosa e, quando da necessidade do seu uso em pacientes como o Sr. Adauto, devemos iniciar com baixas doses, as quais diminuem os riscos de efeitos adversos e mantêm a eficácia anti-hipertensiva. Além disto, quando da prescrição de diuréticos para homens, devemos sempre estar cientes do risco de impotência sexual. Deve-se sempre lembrar que os diuréticos de alça são reservados para situações especiais, como hipertensão associada à insuficiência renal ou insuficiência cardíaca congestiva. Nestes casos, os efeitos adversos decorrentes do uso do diurético de alça incluem hipotensão ortostática, vertigem, parestesia, hiperuricemia e hiperglicemia.

Já considerando os inibidores de ECA, anti-hipertensivos também muito utilizados, é importante lembrar que um dos efeitos adversos mais comuns é a tosse seca e por vezes noturna, que frequentemente causa incômodo importante, levando a baixa adesão terapêutica. E pensando especificamente no caso do Sr.Adauto, que apresenta crises de "chieira", essa tosse poderia piorar ainda mais o seu "bem-estar", levando ao abandono do tratamento. Interessante lembrar que algumas vezes substituir o captopril por enalapril é sufuciente para melhorar a tosse causada pelo medicamento, pois esse último costuma ser melhor tolerado pelos pacientes. Outro ponto a ser ressaltado em relação a essa classe de anti-hipertensivos é que eles podem ter sua eficácia comprometida pelo uso de anti-inflamatórios não-esteroidais (AINEs), como é o caso do Sr. Adauto. 

Como alternativa aos iECA, merecem destaque os Bloqueadores de receptores AT1da angiotensina II. Os medicamentos desta classe também atuam no sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) porém têm incidência 5 vezes menor de tosse seca como efeito colateral quando comparados aos iECA. Estudos recentes revelaram equivalência entre estas duas classes de anti-hipertensivos na redução de efeitos coronarianos e superioridade dos BRA II na proteção cerebrovascular. Além disso os BRA II têm efeitos nefroprotetores e são benéficos em casos de insuficiência cardíaca congestiva. Considerando estas características, os bloqueadores de receptor AT1 são drogas interessantes no tratamento da hipertensão arterial do Sr. Adauto.

Além dos medicamentos que atuam sobre o sistema renina angiotensina, uma boa opção de medicamento para o Sr Adauto seria o bloqueador de canal de cálcio, classe eficaz de anti hipertensivos. Os efeitos colaterais mais comumente observados com o uso desses medicamentos são cefaléia, tonturas, rubor facial, edema de extremidades e constipação intestinal (este último especialmente com verapamil). No entanto, em doses baixas (em monoterapia ou associados) esses medicamentos são bem tolerados, pois em geral, tais efeitos adversos são dose dependentes. Entretanto, devemos estar atentos a algumas particularidades. Os bloqueadores de canal de cálcio podem ser divididos em di-hidropiridinas (ex: Anlodipino e Nifedipino) e os não di-hidropiridínicos (Diltiazem, uma benzodiazepina, e Verapamil, uma fenialquilamina). Estes últimos são medicamentos que têm preferência pelos canais de cálcio do coração. Logo, têm ação cardiodepressora e podem causar bradicardia e bloqueios átrio-ventriculares em graus variados, não devendo ser usados conjuntamente com beta-bloqueadores ou digitálicos, ou em pacientes com insuficiência cardíaca e/ou distúrbios de condução. Também causam outros efeitos colaterais, como constipação intestinal, edema e cefaléia, náuseas, tontura, dispnéia e astenia. Portanto, podemos ver que os bloqueadores de canal de cálcio não-di-hidropiridinas não são uma boa escolha para o Sr. Adauto.

Uma classe de medicamentos que deve ser evitada no caso do Sr. Adauto são os B-bloqueadores. Estes podem causar broncoespasmo, distúrbios da condução atrioventricular, vasoconstrição periférica, insônia, pesadelos, depressão psíquica, astenia, disfunção sexual, intolerância à glicose e desequilíbrio do metabolismo lipídico. Além do mais, a suspensão abrupta de beta-bloqueadore pode causar hipertensão rebote. Esse fator deve ser ponderado particularmente em pacientes com baixa adesão terapêutica, a exemplo do Sr. Adauto. Definitivamente, os efeitos adversos não compensam os possíveis benefícios que esses medicamentos poderiam trazer ao nosso paciente, já que não há nenhuma patologia cardíaca no momento que justifique o uso de um B-bloqueador.

Um comentário:

Anelise Impellizzeri disse...

Ei Rafaela, reveja apenas as indicações e efeitos colaterais dos dihidropiridínicos, OK?
Abs
Anelise

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