domingo, 26 de junho de 2011

Terapêutica I: O que aprendi de importante - parte 2

 Estão publicadas aqui algumas das frases dos meus colegas. Não entendi bem se deveria publicar apenas frases relativas aos temas que estudei, ou frases de todos os temas. Por isso, optei pelas frases que também foram conteúdo dos meus estudos ao longo do semestre, pois achei que assim poderia complementar meus próprios conhecimentos. As frases não foram escolhidas aleatoriamente, muito pelo contrário. Escolhi frases que resumissem bem um aspecto que considero importante ser lembrado futuramente, assim como frases que me lembraram de aspectos que (acreditem!) já não me lembrava mais. Além disso, creio que, inclusive, aprendi algumas coisas além do que já havia aprendido no semestre, seja porque minhas colegas colocaram conceitos vistos em outras fontes ou porque os aprenderam em disciplinas optativas que não pude cursar. Desse modo, o conhecimento foi compartilhado por todos e, ao mesmo tempo, sei que a qualquer momento que tiver alguma dúvida, poderei voltar aqui e rever tudo aquilo que aprendemos esse semestre. 

Então, eis o que aprendi... =D



Tontura
"A indicação da cinarizina e da flunarizinha se resume às vertigens agudas, sendo proscritos para as formas crônicas de vertigem." Maria Gabriela

"(...) O objetivo do tratamento, além de melhorar a vertigem, é restabelecer o equilíbrio corporal e melhorar náuseas e vômitos. Seu uso deve ser interrompido assim que se obter melhora dos sintomas, pois seu uso crônico inibe a compensação vestibular." Rairine, referente à cinarizina e flunarizina.

Hipertireoidismo
"A retirada do metimazol e do propranolol devem ser lentas e gradativas, pois há risco do retorno do hipertireoidismo com a retirada da droga." Marcella

"É preferível o uso do metimazol devido ao seu maior tempo de ação, o que permite uma única tomada diária. O propiltiouracil é usado na gestação por atravessar a barreira placentária em uma quantidade menor do que o metimazol." Rairine

Hipotireoidismo
"O tratamento do hipotireoidismo em idosos deve ser iniciado com doses mais baixas de levotiroxina (12,5 a 25 mg), com aumentos mais paulatinos do que para pacientes não idosos, até que se atinja a dose ideal. Isso porque a população geriátrica é mais susceptível a arritmias e a isquemia miocárdica induzidas ou agravadas por levotiroxina." Maria Gabriela

"Em casos de sintomas como astenia, sonolência, adinamia, dificuldade de memória e de concentração, é importante pensar em hipotireoidismo, pois muitas vezes pensa-se apenas em depressão, sem nem sequer pensar na possibilidade de hipotireoidismo" Michele 

"Anti-TPO positivo confirma auto-imunidade e nos orienta sobre a busca de outras doenças auto-imunes que podem se apresentar concomitantemente." Rairine 

Ansiedade
"Os benzodiazepínicos devem ser evitados (no tratamento de transtornos da ansiedade), pois não há comprovação de eficácia a longo prazo no tratamento de transtornos de ansiedade, além disso causam dependência, sendo seu uso reservado para situações excepcionais com duração máxima de 3 semanas." Maria Gabriela 

"Os IRSS devem preferencialmente ser usados pela manhã, já os tricíclicos devem ser tomados preferencialmente à noite, devido ao efeito sedativo." Marcella

Hipertensão Arterial
"Os diuréticos (especificamente os tiazídicos, já que os de alça ficam reservados para situações de hipertensão associada a insuficiência renal e na insuficiência cardíaca com retenção de volume) são uma excelente classe de anti-hipertensivos, pois reduzem efetivamente a morbidade e a mortalidade cardiovascular; porém, podem induzir ou piorar dislipidemia (principalmente hipertrigliceridemia) e hiperglicemia (aumentado o risco de DM), também podem causar hipopotassemia, além de serem contraindicados para pacientes com gota." Michele

Diabetes mellitus
"Para diabéticos com elevado risco cardiovascular, que não tenham contra-indicações, recomenda-se terapia com anti-agregante plaquetário (ácido acetilsalicílico, 100 mg, 1 comprimido após o almoço) e com estatinas." Michele

"A metformina é geralmente uma excelente opção, principalmente em casos associados a obesidade, e deve ser ingerida preferencialmente antes das refeições, por exemplo, do almoço e/ou jantar; mas não pode ser utilizada de forma alguma quando o clearance de creatinina estiver abaixo de 50." Michele 

"Os efeitos adversos sobre o trato gastrointestinal induzidos pela metformina parecem ser dose-dependente, geralmente ocorrem no início da terapêutica e usualmente regridem espontaneamente com a continuação da terapêutica ou podem ser reduzidos por aumento gradual da dose ou administração do medicamento junto com as refeições." Marcella

"O grupo de diabetes  pode auxiliar o paciente na compreensão de sua patologia e na importância de se seguir corretamente a prescrição médica, seja através de intervenções farmacológicas ou na mudança de estilo de estilo de vida." Rairine

"O principal efeito adverso dos medicamentos da classe das sulfoniluréias é a hipoglicemia, principalmente quando há uso concomitante de bebidas alcoólicas. Deve-se orientar o paciente a não permanecer muito tempo sem comer, a não ingerir álcool e, caso for realizar atividade física, se alimentar anteriormente. Pode ocorrer ainda ganho de peso, sendo necessário maior controle da alimentação." Rairine



Dislipidemias
" Em casos de valores de triglicérides acima de 500 mg/dL, o tratamento tem como principal propósito diminuir o risco de pancreatite, sendo os fibratos os medicamentos de escolha." Michele 

Tabagismo
"A abordagem farmacológica varia de acordo com os recursos financeiros do paciente (uma vez que os preços dos medicamentos variam MUITO!), por exemplo, em casos de pacientes com poucos recursos, pode-se iniciar com TRN (como goma de nicotina) e, se for necessário, associar Nortriptilina; já em casos de pacientes com recursos, pode-se iniciar com TRN (como adesivo de nicotina) e, se for necessário, pode-se associar Bupropiona." Michele


 

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Terapêutica I: O que aprendi de importante



Hipertensão arterial

Em pacientes com alto risco cardiovascular, a terapia farmacológica  deve ser iniciado mesmo em pacientes com pressão arterial limítrofe devido ao seu impacto na proteção dos órgãos-alvos; redução do impacto causado pela elevação da PA; redução do impacto causado pela presença de fatores de risco associados e na progressão do processo aterosclerótico.

O diurético tiazídico é a droga de escolha para início do tratamento farmacológico na maioria dos pacientes hipertensos. Entretanto, em pacientes com alteração metabólicas associadas, como diabetes mellitus (ou hiperglicemia), hiperuricemia e dislipidemia, pode não ser a opção adequada, uma vez que o tiazídico pode agravar as alteraçãoes metabólicas já existentes, e ele não apresenta redução da hipertrofia ventricular esquerda como outras drogas.

O beta-bloqueador só reduz a mortalidade por desfechos cardiovasculares em pacientes abaixo de 60 anos, pacientes acima de 60 anos com HAS associada a arritmia cardíaca, coronariopatia, disfunção sistólica e/ou IAM prévio; e pacientes de qualquer idade com insuficiência cardíaca, independente de HAS concomitante ou não.

A associação de iECA/BRA + Bloqueador de canal de cálcio é excelente para pacientes hipertensos com fatores de risco cardiovasculares adicionais, umas vez que estas classes de medicamentos reduzem de forma significativa o risco cardiovascular. Também não alteram o metabolismo lipídico e, no caso dos iECA/BRA, podem ser protetores em casos de diabetes/hiperglicemia, além de ser uma combinação mais eficaz do que a combinação de iECA + diurético na redução da morbidade e mortalidade cardiovasculares.

Tontura

A associação Gingko biloba com ácido acetilsalicílico é perigosa e formalmente contra-indicada, pois o Ginkgo biloba tem ação de anti-agragante plaquetário. Assim, podem ocorrer efeitos aditivos na antiagregação plaquetária do ginkgo biloba e do ácido acetilsalicílico que aumenta o risco de hemorragia craniana.

A cinarizina/flunarizina não devem ser prescritos para idosos porque causam parkinsonismo e, além disso, os idosos são particularmente suscetíveis aos efeitos adversos das medicações, principalmente a sedação. A sedação nessa faixa etária aumenta o risco de quedas (importante fator de morbidade e mortalidade nessa população) e favorece a ocorrência de depressão. Além disso, nesta faixa etária a polifarmácia é comum, e os efeitos sedativos da cinarizina e da flunarizina podem ser aditivos na inibição do SNC quando combinadas com outras drogas.

Ansiedade

A paroxetina (ou um inibidor seletivo da recaptação de serotonina) é o medicamento de primeira escolha no tratamento do transtorno de ansiedade generalizada. Entretanto, é um medicamento caro, não fornecido pelo SUS, e que tem efeito colateral de diarréia, não devendo ser prescrito para pacientes que apresentam alterações gastrointestinais.

As drogas comprovadamente eficazes para o tratamento da fobia ou ansiedade social são os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (fluvoxamina, paroxetina, sertralina e escitalopram, consideradas drogas de primeira linha), a venlafaxina (IRSN), os iMAOs (fenelzina e tranilcipromina), e os benzodiazepínicos (clonazepam, alprazolam e bromazepam). A fluoxetina não tem eficácia comprovada.

Dislipidemia

Os efeitos adversos são raros durante tratamento com estatinas. Os mais graves, como hepatite, miosite e rabdomiólise, são observados ainda mais raramente. No entanto, para identificar possíveis efeitos adversos recomenda-se a dosagem dos níveis basais de creatinofosfoquinase (CK) e de transaminases (especialmente de ALT) antes de iniciar o tratamento, na primeira reavalição e sempre que a dose do medicamento for aumentada.

Na hipertrigliceridemia isolada são prioritariamente indicados os fibratos e, em segundo lugar, o ácido nicotínico ou a associação de ambos. Pode-se ainda utilizar nesta dislipidemia o ácido graxo ômega-3, isoladamente ou em associação com os outros fármacos.

Diabetes mellitus

Para pacientes virgens de tratamento, está indicado um tratamento com modificações do estilo de vida e metformina, independente dos valores da glicemia de jejum e hemoglobina glicada. As contraindicações para o uso desse medicamento são gravidez, insuficiências renal, hepática, cardíaca, pulmonar e acidose grave.

Os efeitos adversos da metformina incluem desconforto abdominal e diarréia, além de poder provocar também uma diminuição do peso. Logo, também tem efeitos benéficos em pacientes com síndrome metabólica.

A glibenclamida é um medicamento secretagogo da insulina. Logo, poderá causar hipoglicemia como efeito adverso, e devemos orientar os nossos pacientes quanto aos sintomas dessa condição (tremores, taquicardia, palpitação, ansiedade, sudorese, náuseas, parestesias, turvação visual, perda do senso de tempo, sonolência, tontura, astenia, cefaléia, etc) para que reconheçam prontamente esta condição e tomem alguma medida para evitar sua progressão.

Hipertireoidismo

O paciente com hipertireoidismo deve ser inicialmente tratado com um antitireoidiano (metimazol ou propiltiouracil). O metimazol tem menor incidência de efeitos colaterais em baixas doses, posologia mais fácil, custo mais baixo e efeitos hematológicos menos comuns. Deve ser iniciado numa dose de 30mg/dia, tomado pela manhã. O paciente deve ser acompanhado a cada 4-6 semanas. O objetivo do tratamento é tornar o pcnt eurtireóideo em 4-8 semanas. Quando esse objetivo for alcançado, a dose do metimazol pode ser reduzido progressivamente para um dose de manutenção de 10-15mg/dia. O propranolol também deve ser usado no início do tratamento para reduzir os efeitos simpaticomiméticos.

O hipertireoidismo apático é um tipo de hipertireoidismo que ocorre em idosos e que se manifesta por fácies apática, depressão, letargia e hiporexia.

Hipotireoidismo

A causa mais comum do hipotireoidismo é a tireoidite auto-imune, também chamada de tireoidite de Hashimoto, decorrente de uma produção anormal de anticorpos que atacam a tireóide e causam uma diminuição dos hormônios produzidos. A pesquisa de anti-TPO consiste no teste mais sensível para detectar tireoidopatia auto-imune, sendo positiva em cerca de 95% dos casos.

O hipotireoidismo está relacionado a aumento dos níveis lipídicos devido à diminuição do clearence de LDL e redução da lipólise, acúmulo de gordura e redução do metabolismo. Assim, é recomendada a pesquisa de disfunção tireoidiana em qualquer paciente com dislipidemia e, caso for detectada uma hiperlipidemia, está indicado o tratamento da mesma através de mudanças do estilo de vida e tratamento farmacológico.

Tabagismo

A terapia de reposição da nicotina é contraindicada para grávidas, menores de 18 anos e pacientes portadores de doenças cardiovasculares instáveis, como infarto do miocárdio recente, angina instável ou determinadas arritmias.

A bupropiona é um bom medicamento para pacientes que consomem 15 cigarros ou mais ao dia, apesar do custo mensal deste tratamento ser um pouco caro. Sua indicação também é precisa em pacientes com depressão ou sintomas depressivos.




sábado, 18 de junho de 2011

Tarefa - Diabetes mellitus tipo 2

CASO CLÍNICO

Paciente GRM,  de 55 anos, portadora de DM tipo 2 há 8 anos. Obesa e hipertensa em uso de enalapril 20mg BID. Fazia controle do diabetes no posto de saúde de Manhumirim e procurou nosso ambulatório pois o controle do diabetes não estava sendo alcançado. Não relatava muitos episódios de hipoglicemia, apenas quando ficava muito tempo em jejum. Não sabia informar a última vez que havia realizado exame oftalmológico.
  Em uso de Glibenclamida 5mg.
  Glicemia de jejum mostrou resultado de 190mg/dL e glicohemoglobina de 8,5%
  Relatava fazer caminhada por 30 minutos 2 vezes na semana e dizia que seguia a dieta, mas as vezes comia o que não podia.
  PA: 125x80 mmHg    IMC= 27
  Paciente em bom estado geral ao exame, sem alterações.


  No caso de GRM, provavelmente seu tratamento não estava sendo bem sucedido porque a droga de escolha não seria um secretagogo de insulina. Em uma paciente com diagnóstico de diabetes há tantos anos, provavelmente ela já estaria em uma fase de insufuciência pancreática cuja secreção de insulina já estaria bem prejudicada. Normalmente a glibenclamida só é bem indicada nas fases iniciais da doença, perdendo seu efeito nos pacientes com diagnóstico antigo. Nesse caso a metformina seria mais bem indicada já que melhoraria a utilização periférica de glicose agindo sobre a resistência a insulina, principal motivo da hiperglicemia da paciente. Provavelmente com a metformina alcançaríamos a meta de  glicemia de jejum entre 90 e 120mg/dL e glicohemoglobina de menos que 7%
  A metformina, além dos efeitos citados acima seria indicado pois produz uma ligeira perda de peso, e a paciente em questão era obesa.
  Fora os hipoglicemiantes orais, o enalapril é o antihipertensivo mais indicado, já que reduz os efeitos de remodelamento cardíaco e reduz a taxa de lesão renal provocados pelo diabetes.
  A glibenclamida que a paciente utilizava poderia estar levando a paciente a ter aumento de peso além de episódios de hipoglicemia. A paciente relatou alguns episódios hipoglicêmicos,  que podem ter sido causados pelo uso do medicamento.
  A glibenclamida usada juntamente com o enalapril pode levar a redução da resistência a insulina, devendo a dose do hipoglicemiante ser reduzida a fim de evitar hipoglicemia.
  Nesse caso, no entanto o mais correto a se fazer seria substituir a glibenclamida pela metformina e pedir exames para rastrear possíveis complicações resultantes do controle inadequado da doença.

domingo, 12 de junho de 2011

Estudo Dirigido - Tabagismo


 

 CASO CLÍNICO – paciente com poucos recursos ($)

O Sr. Carlton Souza Cruz, 37 anos, compareceu ao seu consultório para um exame periódico de saúde. Ele encontra-se assintomático e tem hábitos de vida saudáveis no que se refere à alimentação, prática de atividade física e prevenção de doenças.
Seu único problema é o tabagismo. Ele fuma 30 a 40 cigarros por dia desde os 22 anos (cerca de 26 anos/maço). Acende o primeiro cigarro ao se levantar da cama pela manhã – este é o cigarro que mais gosta - e tem deixado de frequentar locais públicos onde é proibido fumar. Ele fuma a maioria dos cigarros ainda de manhã, e mesmo quando está gripado não interrompe seu hábito.
Você perguntou se ele deseja parar de fumar e ele disse que acha que deveria, mas crê que não conseguirá, pois já tentou uma vez com “chicletes de nicotina antes do desjejum, almoço e jantar” e não teve resultados.
OBS: Teste de Fagerstrom de dependência à nicotina: cerca de 7 (grau de dependência elevado!)

1)    Você acha que este é um bom momento para orientar o paciente e propor o tratamento farmacológico? Justifique.
Sempre é um bom momento para orientar o paciente para interromper o tabagismo. O médico possui um papel importante nesses casos para dar um suporte psicológico para o paciente de forma a motivar e incentivar a interrupção do hábito. Entretanto, como o paciente se encontra na fase de contemplação, acredito ser importante incentivá-lo a parar de fumar com o objetivo de levá-lo para a fase de preparação, na qual ele estará apto e motivado suficientemente para interromper o hábito e se beneficiar da terapia farmacológica. No caso do Sr Carlton, há algumas peculiaridades que endossam a necessidade de terapia medicamentosa, como o fumo de mais de 20 cigarros por dia; o fumo do primeiro cigarro menos de 30 minutos depois de acordar pela manhã; e falha em outra tentativa de largar o tabagismo.

Você orientou o paciente quanto aos benefícios de deixar de fumar, ensinou estratégias para enfrentar a abstinência e convidou-o para participar de um grupo de suporte psicológico. Ele marcou uma data para interromper o hábito e retornou em duas semanas para receber sua prescrição.
Ele não tem muitos recursos financeiros, percebeu que usou a goma de mascar com nicotina de forma inadequada na 1ª vez e quer tentar de novo.

2)    Ele tem alguma contra-indicação à terapia de reposição da nicotina? Explique.
Não. A terapia de reposição da nicotina só é contraindicada para grávidas, menores de 18 anos e pacientes portadores de doenças cardiovasculares instáveis, como infarto do miocárdio recente, angina instável ou determinadas arritmias.

3)    Faça uma prescrição de goma de mascar com nicotina utilizando o nome comercial, a dose, e ensinando detalhadamente como utilizar. Escreva na prescrição a duração provável do tratamento e a data do primeiro retorno.
Uso Oral
1) Nicorette (goma de mascar) 4mg -------------------- uso contínuo.
Mascar uma goma a cada 1 ou 2 horas ou sempre que houver sintomas de fissura pelo cigarro. Mascar até o aparecimento de um forte sabor ou uma leve sensação de formigamento. Deve-se então parar a mastigação, colocar a goma entre a bochecha e a gengiva até que o sabor ou o formigamento tenha desaparecido. Voltar a mastigar a goma lentamente e repetir o processo, por até 30 minutos. Não ultrapassar o limite de 24 gomas em um dia. Não ingerir bebidas ou alimentos 15 min antes ou durante o uso. Usar por 12 semanas.
Retorno em 1 mês.

4)    Que efeitos adversos podem ocorrer?
Aftas, salivação, soluços, dispepsia, irritação faríngea, dor na articulação temporomandibular, dentes amolecidos, cefaléia, náuseas.

No dia seguinte o Sr. Carlton retornou. Ele disse que está muito ansioso com a idéia de parar de fumar. Está com receio da goma de nicotina não ser suficiente e disse que um amigo conseguiu parar de fumar tomando “uns comprimidos” que conseguia no centro de saúde.
Ele quer saber se pode usar os comprimidos e a goma de mascar ao mesmo tempo.

5)    Associar nortriptilina ao tratamento trará algum benefício adicional? Explique.
Sim. A nortriptilina aumenta em duas vezes a chance de cessar o tabagismo quando comparada a placebo, e seus benefícios na interrupção do tabagismo estão sendo associados aos da bupropiona (apesar de ser considerada um medicamento de segunda linha). Além disso, estudos recentes demonstram evidências de que a terapia combinada com a terapia de reposição nicotínica possibilita um benefício adicional em longo prazo.

6)    Confira o preço do medicamento em “http://www.consultaremedios.com.br/”.
Nortriptilina 25 mg (caixa com 30cp): R$ 18,00.

7)    Faça uma prescrição de nortriptilina, incluindo o aumento gradativo das doses e a data em que ele deverá tentar parar de fumar.
Uso Oral
1) Nortriptilina 50mg ---------------------------------- 11 comprimidos.
Tomar meio comprimido pela manhã. Após 7 dias, tomar um comprimido pela manhã por mais 7 dias.
2 ) Nortriptilina 75mg --------------------------------- 90 comprimidos.
Tomar um comprimido pela manhã, todos os dias, por 3 meses.
Parar de fumar após 3 semanas do início do tratamento.

CASO CLÍNICO – paciente com recursos ($)
Um ano depois...
A Sra. Derby Hilton Slims, 42 anos, compareceu à consulta por indicação do amigo Carlton, que parou de fumar com a sua ajuda no ano passado. A história dela é semelhante à dele, incluindo o escore máximo no Teste de Fagerström. As únicas diferenças são que ela já sabe tudo sobre abstinência, incluindo várias dicas para enfrentá-la, e tem condições de comprar medicamentos mais caros se for preciso.
Ela quer parar de fumar amanhã, aniversário de 10 anos da morte do seu pai, que faleceu com carcinoma broncogênico associado ao tabagismo. O problema é que ela vai viajar para outro estado e só retorna em quatro meses.

8)    Faça uma prescrição de adesivo de nicotina, utilizando o nome comercial, a dose (comece pela máxima), e ensinando detalhadamente como utilizar. Escreva na prescrição como poderá ser feita a redução da dose e qual deverá ser a duração provável do tratamento.
Uso Tópico
1) Niquitin adesivo 21 mg ---------------------------------- 42 adesivos.
Aplicar um adesivo na pele ao despertar, área coberta sem pelos (entre o pescoço e a cintura), no dia escolhido para deixar de fumar, trocando a cada 24 h (ou retirando após 16 h de uso, à noite, ao deitar).
Fazer rodízio entre os locais de aplicação. O tabagismo deve ser interrompido logo no primeiro dia de aplicação do adesivo. Uso contínuo (1 adesivo por dia) por 6 semanas.
2) Niquitin adesivo 14 mg ----------------------------------- 14 adesivos.
Aplicar um adesivo na pele ao despertar, trocando a cada 24 horas. Uso contínuo por 2 semanas.
3) Niquitin adesivo 7 mg ------------------------------------- 14 adesivos.
Aplicar um adesivo na pele ao despertar, trocando a cada 24 horas. Uso contínuo por 2 semanas.

9)    Que efeitos adversos podem ocorrer?
Reações adversas no local da aplicação incluem prurido, irritação e calor. Essas reações normalmente desparecem após o 1º dia de aplicação, e raramente ocorrem reações mais graves nesse local. Também poderão ocorrer infiltração da derme, bolhas, insônia, hipersalivação, náuseas e vômitos.

Como você já esperava, ela retornou em três meses com más notícias. Tudo ia bem com a dose de 21 mg nas primeiras três semanas. Ela utilizou o adesivo de 14 mg por mais três semanas, e passou para o de 7 mg. Mas em vez de manter o medicamento até retornar a consulta, conforme a sua orientação, ela achou que já estava “livre do vício” e parou de usar depois de duas semanas.
No dia de voltar para casa, no aeroporto, após ser informada sobre o cancelamento do vôo, não resistiu e voltou a fumar.
Ela ficou bastante deprimida com o insucesso; tem dormido mal, está ansiosa o dia inteiro e ganhou peso.

10) A Sra. Derby tem alguma contra-indicação à utilização de bupropiona? Ou pelo contrário, seria uma droga bem indicada agora?
Acredito que não haja nenhuma contra-indicação à utilização da bupropiona, que incluem epilepsia, tumor do SNC, anormalidades no EEG, traumatismo craniano e uso de inibidor da MAO nos últimos 15 dias (além de contraindicações relativas, como o uso concomitante de carbamazepina, cimetidina, barbitúricos, fenitoína, antipsicóticos, teofilina, corticosteróides sistêmicos, pseudo-efedrina, hipoglicemiante oral/insulina e presença de hipertensão arterial sistêmica não controlada).
      Existe sim indicação para o uso da bupropiona, que deve ser usada em pacientes que consomem 15 cigarros ou mais ao dia. Para fumantes com depressão ou sintomas depressivos (como é o caso da Sra. Derby), a indicação também é mais precisa.

11) Confira o custo mensal (60 comprimidos de 150 mg por mês) em “http://www.consultaremedios.com.br/”.
Bupropiona 150mg (caixa com 30 cp): de R$63,00 a R$ 101,00. Custo mensal (60cp/mês): R$126,00 a R$202,00.

12) Ela poderia ser associada ao adesivo de nicotina?
Sim. Entretanto, a despeito da melhora das taxas de cessação, ainda não está muito claro o quanto essa combinação pode ser eficaz para ajudar na cessação do tabagismo. Estudos demonstraram que, embora houvesse benefício na associação da bupropiona com a terapia de reposição nicotínica (TRN) em relação à TRN isoladamente, não houve dieferenças significativas entre esta asociação e o uso da monoterapia com bupropiona. Apesar disso, a combinação adesivos de nicotina + bupropiona é aprovada pelo FDA.

13) Faça a prescrição de bupropiona citando a dose. Lembre que nos primeiros três dias a dose é menor, e que a última dose do dia não deve ser tarde, para não provocar insônia. Durante quanto tempo ela deverá utilizar a droga?
Uso Oral
1) Bupropiona 150 mg ------------------------------ 171 comprimidos.
Tomar 01 comprimido às 08:00 horas, durante 3 dias. A partir do 4º dia, tomar um comprimido às 08:00 horas e um comprimido às 16 horas, diariamente, por 12 semanas.

Nas semanas seguintes a paciente retornou quatro vezes ao consultório sem fumar, utilizando a bupropiona regularmente, mas queixando-se de “tontura”. A princípio vocês acreditaram que era um sintoma de abstinência. Mas depois de 40 dias sem melhora ela decidiu que não vai continuar o tratamento. Ela ainda tem muita vontade de fumar, e com certeza voltará ao hábito se não tomar nenhum medicamento.

14) A Sra. Derby tem alguma contra-indicação à utilização de vareniciclina? Ou pelo contrário, seria uma droga bem indicada agora?
Depende. Ela não tem nenhuma contra-indicação orgânica (hipersensibilidade à vareniclina e insuficiência renal grave), mas depende da sua condição financeira: o kit de tratamento completo pode custar R$1085,24!!! Seria uma boa opção de tratamento no momento, uma vez que constitui terapia de 1ª linha para cessação do tabagismo e o uso de bupropiona teve que ser interrompido devido aos efeitos adversos. Entretanto, é importante lembrar que a vareniciclina também pode apresentar tontura como efeito adverso, além de sintomas depressivos e ideações suicidas. Uma vez que a paciente já se a apresentava deprimida anteriormente por ter tido uma recaída, este efeito pode vir a ser grave, e ela deverá ser acompanhada de perto.

15) Confira o custo do “kit tratamento completo”, para três meses, em “http://www.consultaremedios.com.br/.
R$1085,24!!

16) Faça a prescrição de vareniciclina, descrevendo em detalhes o aumento de dose da 1ª semana.
Uso Oral
1) Vareniciclina 0,5 mg ------------------------- 11 comprimidos.
Tomar 01 comprimido às 08:00 horas, por 3 dias. A partir do 4º dia, tomar um comprimido às 08:00 horas e 01 comprimido às 16:00 horas, por mais 4 dias.
2) Vareniciclina 1,0 mg ----------------------------- 154 comprimidos.
A partir do 8º dia, tomar 01 comprimido às 08:00 horas e 01 comprimido às 16 horas, diariamente, por 11 semanas.
O tempo ideal de tratamento seria de 12 semanas; entretanto, como a Sr. Darby já havia feito tratamento com a bupropiona por algumas semanas antes da troca do medicamento, acredito que 10 ou 11 semanas de uso da vareniciclina serão suficientes.
Interromper o tabagismo após uma semana de início do tratamento.

17) Se ela precisar de um “kit reforço”, por mais três meses, qual será o preço?
O kit reforço tem o mesmo preço do tratamento habitual: R$1.085,24!!

Fim do caso clínico.



[1] Reichert J, Araújo AJ, Gonçalves CMC, Godoy I, Chatkin JM, Sales MPU et al. Diretrizes para cessação do tabagismo – 2008. J Bras Pneumol. 2008;34(10):845-880.
[2] Marques ACPR et al. Consenso sobre o tratamento da dependência de nicotina. Rev Bras Psiquiatr 2001;23(4):200-14.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Estudo Dirigido - Hipotireoidismo

CASO CLÍNICO : SR. JOSEFINO DA CRUZ
O Sr. Josefino da Cruz de 59 anos, sexo masculino, queixa-se de astenia, sonolência, adinamia, dificuldade de memória e de concentração há cerca de 1 ano, coincidindo com aposentadoria. Atribuiu o fato a depressão e procurou psiquiatra que prescreveu fluoxetina. Não obteve melhora com a fluoxetina e passou a não dormir bem.
Tem dislipidemia diagnosticada há 2 anos, com colesterol total de 250 mg/dL e LDL elevado, na faixa de 170 mg/dL, mas recusa-se a usar medicamento, pois diz já ter utilizado e “não adiantou nada”.
Procurou ambulatório de clínica geral, onde se observou discreto bócio difuso de superfície lisa, FC 64 bpm, PA 130 x 90 mmHg, IMC 28.
Foram solicitados os seguintes exames:
TSH: 13,8 mU/L (ref 0,5-4,5),
T 4livre: 0,7ng/dl (0,8-1,8);
Glicemia jejum: 104mg/dl
Creatinofosquinase: 567UI/ml (até 190 UI / ml em homens).


1)    Comente os sinais e sintomas encontrados, correlacionando-os com o hipotireoidismo.
Nos pacientes com hipotireoidismo, ocorre uma diminuição da taxa metabólica e um acúmulo de glicosaminoglicanos (decorrente de aumento na síntese do áido hialurônico) que se deposita no espaço intesticial de diversos órgãos. Essas duas alterações explicam a maioria dos sinais e sintomas da doença.
      O Sr. Josefino queixou-se de astenia, sonolência (e ao mesmo tempo sono ruim), adinamia, dificuldade de memória, que são sintomas do sistema nervoso muito comuns no hipotireoidismo devido à diminuição do metabolismo da glicose e diminuição do fluxo sanguíneo cerebral. Esses mesmo sintomas poderiam ser confundidos com um quadro de depressão, uma vez que ainda houve coincidência do início dos sintomas com a época de aposentadoria do paciente. Entretanto, a ausência de resposta clínica com o uso da fluoxetina é um dado que fala a favor de outra causa para esses sintomas, no caso o hipotireoidismo.
      Outro sinal que o paciente apresenta é a dislipidemia, que também pode ocorrer no hipotireoidismo devido à redução do clearence de LDL e favorece a aterogênese em hipotireóideos. O fato de medicamento antilipemiante não ter tido efeito também diz a favor de uma causa secundária de hiperlipidemia do paciente.
      No mais, o paciente apresentou bócio difuso e aumento do IMC, explicável pelo aumento de peso decorrente da retenção de sal e água que ocorre nesses pacientes, além de redução do metabolismo com acúmulo de gordura e redução da lipólise.

2)    Este paciente é portador de hipotireoidismo subclínico? Por quê?
      Não. O hipotireoidismo subclínico é diagnosticado quando ocorrem níveis elevados de TSH com T4 livre normal. Além disso, normalmente o paciente com hipotireoidismo subclínico é assintomático, o que não é o caso do Sr. Josefino, que apresenta sinais e sintomas clássicos do hipotireoidismo.

3)    Qual a etiologia mais comum do hipotireoidismo? Como diagnosticá-la?
A causa mais comum do hipotireoidismo é a tireoidite auto-imune, também chamada de tireoidite de Hashimoto, decorrente de uma produção anormal de anticorpos que atacam a tireóide e causam uma diminuição dos hormônios produzidos. A pesquisa de anti-TPO consiste no teste mais sensível para detectar tireoidopatia auto-imune, sendo positiva em cerca de 95% dos casos. Pode ser solicitada, ainda, pesquisa de anticorpo anti- tireoglobulina, que também é um marcador de tireoidopatia auto-imune, porém, menos sensível que o anti-TPO.

4)    Você dosaria Anti-TPO? Como espera encontrá-lo?
Sim, justamente para confirmar a principal suspeita que é a tireoidite auto-imune ou de Hashimoto. Esperaria encontrá-la aumentada.

5)    Na palpação da tireóide observou-se tireóide difusamente aumentada, fibroelástica, sem nódulos detectáveis à palpação. Você faria uma cintilografia da tireóide? E um ultra-som? Justifique.
Acredito que a o ultra-som da tireóide não seja necessária, pois o bócio pode estar presente em pacientes com hipotireoidismo e não há presença de nódulos suspeitos no exame físico. A cintilografia deve ser feita quando há sinais e sintomas de tireotoxicose, para diagnóstico diferencial, o que não é o caso.

6)    Como você explica o aumento da creatinofosfoquinase?
A creatinofosfoquinase é uma proteína que, quando em níveis elevados, indica lesão muscular. O hipotireoidismo pode causar astenia e adinamia, além da diminuição da ingesta calórica e diminuição do turn-over de proteínas, que, conjuntamente, podem causar o aumento da CPK no sangue.

7)    Como você o orientará sobre a dislipidemia? E a hipertensão? E a depressão?
Essas três alterações podem estar sendo causadas pelo próprio hipotireoidismo (a dislipidemia devido à diminuição do clearence de LDL e diminuição da lipólise; a hipertensão pelo aumento da resistência vascular periférica; e no caso da depressão, os sinais e sintomas podem ser os mesmos do hipotireoidismo em si). Entretanto, apesar de serem secundárias, também apresentem consequências importantes, como o aumento da aterogênese e do risco cardiovascular, sendo interessante orientar o paciente a instituir mudanças do estilo de vida e outras formas de tratamento não farmacológico. Como os sintomas podem ser decorrentes da disfunção tireoidiana, é interessante suspender a fluoxetina e tratar o hipotireoidismo primeiro, acompanhando o paciente com lipidogramas, medidas da pressão arterial e observação dos sintomas neurológicos para ver se são somente devido ao hipotireoidismo ou se existe alguma outra afecção associada que deve ser tratada.

8)    Faça uma prescrição de T4 (levotiroxina), utilizando o nome comercial, a dose, e ensinando detalhadamente como utilizar. Escreva na prescrição a duração do tratamento, os cuidados que deve ter com o medicamento e a forma de ingeri-lo, assim como a data do primeiro retorno.
Uso oral
1) Puran T4 50mcg ----------------------------- 30cp.
Tomar 01 cp pela manhã (em jejum, uma hora antes do café da manhã), por 30 dias.
Retorno em 4 semanas para dosagem de TSH e T4 livre e avaliação do tratamento. Está recomendada um aumento da dose de 25mcg/mês até um dose alvo de 100mcg. O puran T4 deve ser tomado com pelo menos 4 horas de diferença de outros medicamentos e/ou vitaminas.

P.S. Não sei se fazemos o acompanhamento com TSH e T4 livre somente após 4 semanas de tratamento com a dose de 100mcg/dia, ou se esse acompanhamento deve ser feito antes do aumento da dose a cada mês. Ficaria meio receosa de aumentar a dose sem avaliar o paciente antes, apesar de ter lido que o retorno poderia ser marcado somente após 4 a 6 semanas do uso da dose de 100mcg/dia. Outra coisa é que, assim como a Maria Gabriela, fiquei na dúvida se não iniciava o tratamento com um dose menor (por exemplo de 25mcg), uma vez que o paciente não é idoso mas apresenta-se no limite da idade (59 anos).

9)    Por que você não utilizou T3 (tri-iodotironina) para o tratamento deste paciente?
No homem, o T4 é deiodinado a T3 em tecidos extra-tireoidianos, de modo que o T4 é o agente terapêutico que melhor simula a fisiologia tireodiana normal, provendo ao organismo ambos os hormônios, ao contrário da terapia isolada com T3. Desta forma, o tratamento de pacientes portadores de hipotireoidismo com T4 isoladamente resulta em níveis séricos diários relativamente constantes de T4 e T3, como ocorre com o indivíduo normal. Há ainda várias outras razões  para se administrar T4 ao invés do T3. A ingestão de T3 ou compostos contendo T4 e T3, é associada com picos pós-absortivos de T3, levando a palpitações. Além disso, a concentração sérica de triiodotironina após administração de T4, formada no tecido extra-tireoidiano a partir da tiroxina ingerida, é controlada fisiologicamente, o que pode trazer benefícios durante doenças e jejum, quando a produção extratireoidiana de triiodotironina é usualmente diminuída e as concentrações séricas são baixas. Há, ainda, que se considerar que a retroalimentação negativa sobre a hipófise é feita não só pelo T3, mas também pelo T4. Além disso, existem desvantagens farmacocinéticas na terapia com T3 (possui menor meia-vida e apresenta picos de absorção mais acentuados).

Você inicia o tratamento com levotiroxina, na dose de 50 mcg/dia. Entretanto, o paciente só retorna quatro meses após, com os primeiros controles, que mostram TSH 11,4 mU/L, T4 livre 1,7 ng/dl e anti-TPO de 1200.

10)  Como você interpreta estes exames? Porquê o TSH continua alto e o T4 livre está normal?
Acredito que a adesão ao tratamento está baixa, e um TSH aumentado com T4 livre nos limites superiores da normalidade (como é o caso) são típicos desta situação. Outra explicação que poderia ser dada é que a dose do medicamento ainda está baixa, uma vez que TSH aumentado com T4 livre dentro dos limites da normalidade pode ser indicativo de hipotireoidismo subclínico.
P.S. Qual das duas explicações é a mais provável? É comum o hipotireoidismo evoluir com hipotireoidismo subclínico em pacientes com doses inadequadas de medicamentos? Eu pensaria que se a dose fosse inadequada haveria também uma diminuição do T4 livre, mas, pensando bem, talvez a dosagem baixa do medicamento seja mais provável. Isto porque a necessidade de T4 no organismo é de cerca de 100mcg/dia, o que implicaria numa dosagem mínima de manutenção de 100 a 125mcg/dia. Como o paciente só está tomando 50mcg, acho que a dose incorreta da medicação esteja causando um hipotireoidismo subclínico.

11)  Como você procederá agora? Com que intervalo irá rever o paciente?
Primeiramente eu reforçaria a importância do tratamento e explicaria ao paciente as possíveis consequências da não adesão. Investigaria qual a probabilidade da não adesão. Caso achasse que o paciente realmente estava tomando sua medicação nas doses e horários corretos, aumentaria a dose para 75mcg e posteriormente para 100mcg/dia, com reavaliação do paciente mensalmente. Caso achasse que houve falha no tratamento por falta de adesão, manteria a dose atual, com novo retorno em um mês.

12) Que efeitos adversos podem ocorrer com o tratamento?
Um efeito adverso importante com o tratamento com levotiroxina sódica é o desenvolvimento de hipertireoidismo decorrente da sobredose. Assim, podem ocorrer taquicardia, palpitações, arritmias cardíacas, dor anginosa, cefaléia, nervosismo, excitabilidade, insônia, tremores, fraqueza muscular, cãibras, intolerância ao calor, sudorese, fogachos, febre, perda de peso, irregularidades menstruais, diarréia e vômito. Esses efeitos podem ser identificados através de níveis suprimidos de TSH, que por sua vez está associado a um risco maior de fibrilação atrial em idosos. Um efeito adverso incomum é a alergia (rashs e urticária) ao corante do comprimidos.

13)  Se o Sr Josefino tivesse 80 anos, sua conduta seria diferente? Por quê? Faça a prescrição para um senhor de 80 anos.
Sim. O tratamento em idosos deve ser instituído de forma muito gradual de modo a prevenir um aumento metabólico muito súbito que pode não ser bem tolerado. Assim, a dosagem inicial do medicamento seria menor e o aumento da dosagem também deveria ser feito de forma mais gradual.
Uso oral:
1) Puran T4 25mcg --------------------------------- 30 cp/mês.
Tomar um cp antes do café da manhã (em jejum, uma hora antes do café da manhã), uso contínuo.
O retorno deverá ser marcado em 4-6 semanas para reavaliação da dose.

14)  Qual o intervalo necessário para acompanhar o sr Josefino. Faça um planejamento de retornos.
O paciente deve retornar mensalmente ou a cada 6 semanas para avaliar a necessidade de ajuste da dosagem do medicamento, até que se alcance níveis normais de TSH. Uma vez que sejam alcançados níveis normais de TSH, o acompanhamento do paciente deve ser anual, com exame clínico detalhado e dosagem de TSH e T4 livre. Caso o paciente inicie o tratamento com algum outro medicamento que altera o metabolismo do T4, (colestiraminas, sulfato ferroso, cálcio, alguns antiácidos que contêm hidróxido de alumínio, alguns anticonvulsivantes, rifampicina e sertralina), níveis séricos de TSH devem ser dosados em 4-6 semanas após o início desses medicamentos para garantir a dose adequada de tiroxina. Caso seja necessário, a dose poderá ser ajustada até que os níveis de TSH voltem para dentro dos valores de referência.

CASO CLÍNICO - SR. ATHEROS MAGNUS

O Sr. Atheros Magnus, 46 anos, é seu paciente há mais de um ano. Neste período vocês já tentaram diversas alternativas não farmacológicas para que ele conseguisse melhorar o perfil lipídico, mas nada deu certo. Ele segue rigorosamente a dieta com baixo teor de gordura saturada e colesterol, e ingere frutas, verduras e legumes. Ele não fuma e consome álcool com moderação. Pratica atividade física regularmente e vem mantendo um peso saudável (IMC=22). Ele não tem hipertensão, diabetes ou difunção função renal e hepática. As dosagens do colesterol LDL em geral estão por volta de 190 mg/dL, do colesterol HDL por volta de 40 mg/dL, e dos triglicérides por volta de 180 mg/dL.
Ele iniciou com dor precordial e evoluiu para infarto agudo do miocárdio. Após este evento, foi-lhe solicitado TSH=25,6 e T4 livre=0,6. A palpação da tireóide revelou glândula discretamente aumentada, fibroelástica, sem nódulos.

15) Comente o diagnóstico de hipotireoidismo e a possibilidade de ele já ser portador do hipotireoidismo há longa data.
É bem provável que o paciente já seja portador de hipotireoidismo há longa data, uma vez que os níveis de colesterol estavam persistentemente aumentados apesar de medidas não farmacológicas efetivas. O hipotireoidismo está relacionado a aumento dos níveis lipídicos devido à diminuição do clearence de LDL e redução da lipólise, acúmulo de gordura e redução do metabolismo. Assim, é recomendada a pesquisa de disfunção tireoidiana em qualquer paciente com dislipidemia. Caso esse screening tivesse sido feito, provavelmente o paciente teria sido tratado precocemente e não teria evoluído para um IAM. Além disso, independente dos níveis de TSH e T4 livre, a terapia farmacológica para dislipidemia deveria ter sido iniciada, uma vez que a dislipidemia é um importante fator de risco para eventos cardiovasculares independentemente de ser primária ou secundária.

16) Faça uma prescrição de (levotiroxina) incluindo o nome comercial, dose, orientações para uso e data do retorno. Como serão os aumentos de dose? Lembre-se da doença coronariana. Releia as implicações deste diagnóstico no tratamento do hipotireoidismo.
Uso oral:
1) Puran T4 25mcg ----------------------------- 30cp/mês.
Tomar 01 cp pela manhã (em jejum, uma hora antes do café da manhã), uso contínuo.
O retorno deverá ser marcado em 4-6 semanas para avaliar a necessidade de ajuste da dose. A dosagem do medicamento deverá ser aumentada em doses de 12,5 a 25mcg, sempre com uma avaliação cuidadosa tanto dos sintomas do hipotireoidismo quanto da doença cardiovascular.

Fim do Estudo Dirigido.



[1] Anelise Impelizieri Nogueira. Hormônios tireoidianos.
[2]Sociedade Brasileira de Endocrinologia. Hipotireoidismo: Projeto Diretrizes, 2005.
[3] DevdharM, Ousman YH, Burman KD, Hypothyroidism. Endocrinol Metab Clin N Am 36 (2007) 595–615
[4] Sociedade Brasileira de Endocrinologia. Tireóide, Doenças da: Utilização dos Testes Diagnósticos, 2004